quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Dar-se enfim

  O prazer é abrir as mãos e deixar escorrer sem avareza o vazio-pleno que se estava encarniçadamente prendendo. E de súbito o sobressalto: ah, abri as mãos e o coração, e não estou perdendo nada! E o susto: acorde, pois há o perigo do coração estar livre!
  Até que se percebe que nesse espraiar-se está o prazer muito perigoso de ser. Mas vez uma segurança estranha: sempre ter-se-á o que gastar. Não ter pois avareza com esse vazio pleno: gastá-lo.


Clarice Lispector

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